Há quem reclame do campeonato brasileiro de Stock Cars atual. Há aqueles que dizem que o campeonato é desorganizado, outros que falta compromisso das equipes e pilotos, que tudo é um jogo de interesses e que automobilismo no Brasil é uma verdadeira bagunça. Obviamente são pessoas que não conhecem nada da história do automobilismo brasileiro.
O primeiro campeonato brasileiro de Stockcars foi realizado em 1979, substituindo o Grupo 1, visto que a concorrência entre Opala/Maverick evaporara e o campeonato se transformara em virtual monomarca. Assim, a GM resolveu promover seu produto exclusivamente, chamando-o de “Torneio Nacional Chevrolet de Stockcar” com óbvia alusão aos carrões americanos mais brabos.
O campeonato, que teria 14 corridas, em si uma grande novidade para os brasileiros acostumados com campeonatos de seis corridas, começou com virtual domínio de Afonso Giaffone, que ganhou as três primeiras provas do ano de forma inconteste. Eventualmente a vantagem dos motores preparados por Jayme Silva se esvaiu, e outros dois concorrentes entraram na luta pelo título, Paulo Gomes e Alencar Junior.
O calendário incluía uma prova na distante Fortaleza, à qual poucos carros apareceram, quase resultando no seu cancelamento. Entretanto, na maioria das etapas, havia por volta de 25 carros, um bom nível para o automobilismo da época. Entre os pilotos, alguns ilustres desconhecidos de capacidade questionável, mas em compensação também disputavam a categoria Ingo Hoffmann, que voltava a correr no Brasil após quatro anos de Europa, e o estreante Raul Boesel, do Paraná, que já ganhara duas corridas quando o “circo” chegou no Rio de Janeiro, para a 12a. etapa realizada em 25 de novembro.
A corrida do Rio foi uma beleza. Belos pegas e ultrapassagens, tanto que a primeira bateria da corrida foi considerada a melhor corrida do ano no Brasil, com Boesel, Affonso, Paulão, Zeca e Ingo trocando posições, resultando em vitória de Ingo. Na segunda bateria Paulo Gomes reagiu, e na soma dos tempos terminou a corrida em primeiro, seguido de Raul Boesel, Alencar Junior, Ingo e Joao Carlos Palhares. Affonso chegara em 13° perdendo terreno para Paulão e Alencar de forma que a disputa pelo título ficaria acirrada. Havia esperança para o automobilismo do Brasil.
A próxima etapa foi realizada em Cascavel, no Oeste do Paraná, onde a confusão de instalou. Aqui o circo pegou fogo. Da prova linda e harmoniosa, com ultrapassagens leais e limpas, o clima no Paraná pareceu tenso logo de cara. Muitos dos 25 concorrentes do Rio resolveram não viajar para o Paraná, e de fato, só foram aqueles que absolutamente tinham que estar lá. Ou seja, só 13 carros participariam.
O barraco começou quando foi comunicada a desclassificação do carro de Alencar Junior, que marcara o melhor tempo nos treinos, justamente um dos fortes concorrentes ao título. O goiano havia instalado uma bomba de álcool (todas as corridas brasileiras já estavam sendo disputadas com álcool) de pickup Chevrolet, e o comissário Bruno Brunetti resolveu desclassifica-lo. Dai, começou o bate-boca. Questões técnicas foram debatidas, e no final das contas, a tal da bomba de pickup apresentou defeitos e Alencar instalou uma bomba igual a dos outros carros. Os comissários decidiram cancelar a desclassificação, voltando Alencar a ocupar a pole.
Isto enfureceu diversos outros pilotos , que exigiam a manutenção da desclassificação. O comissário Brunetti reuniu os concorrentes, Alencar o acusou de desonesto, Paulo Gomes tomou a palavra, todo mundo queria falar, e dai o centro das acusações passou a ser o presidente da Federação Paranaense de Automobilismo, Paulo Nascimento. O ultimato de um pequeno mas representativo grupo de pilotos, que incluía Affonso e Zeca Giaffone, Ingo Hoffmann, Paulo Gomes, Paulo Valiengo, Mauro Sá Motta e Almir Valandro foi de que não participariam de prova, se Alencar não fosse desclassificado.
Dizem que quando Jânio Quadros renunciou à presidência do Brasil, em 1961, o fez achando que as lideranças do País o chamariam de volta, e daí ele voltaria à presidência fortalecido, podendo governar o Brasil da maneira como queria. O maquiavelismo de boteco não deu em nada, ninguém o chamou de volta, Goulart assumiu, e o resto é história. Fi-lo por que qui-lo!
Nesse caso, o grupo de pilotos sabia que sem eles não haveria corrida no strictu sensu. Afinal, além de serem concorrentes importantes, eram oito dos treze pilotos inscritos, e mesmo que a palhaçada (a corrida) fosse realizada com cinco carros, poderiam embargar seu resultado nos Tribunais desportivos ou normais. Dane-se o público de Cascavel, que tanto gosta do automobilismo. Danem-se os patrocinadores. Dane-se o esporte.
O tiro saiu pela culatra. Os organizadores conseguiram arranjar dois carros locais, de Mauro Turcatel e Samuel Neto, este último equipado com ar condicionado, para perfazer o número mínimo que garantiria a efetivação do resultado. A politicagem não deu em nada. A corrida foi disputada com meros sete carros, embora iniciada com atraso (algo impensável na era da TV), para que os dois bólidos arranjados à pressa fossem “devidamente” preparados. Raul Boesel acabou ganhando a sua terceira prova do ano, e Alencar Junior, que abandonara na primeira bateria e ganharia a segunda, marcou os pontos do 4° lugar.
Sem dúvida, este foi o ponto mais baixo do primeiro campeonato de Stock-Cars, e de certa forma, foi bom que Paulo Gomes tenha ganho o título na pista, na última etapa. Indubitavelmente, se Alencar Junior tivesse prevalecido as coisas terminariam em tribunais, tirando todo o brilho de um campeonato bem disputado e organizado.
Que dizem os críticos da atualidade? As coisas estão más hoje? Querem 1979 de volta?
Resultado da 13a. etapa do Torneio Nacional Chevrolet de Stock-Cars
Cascavel, PR 9 de dezembro de 1979
1. Raul Boesel/O Globo, 32 v em 45m08,52s
2. Sidney Alves/Banconsorcio, 32 v
3. Valtemir Spinelli/Gledson/Coca-Cola, 32 v
4. Alencar Junior/Metalonita/HD, 24 v
NC Samuel Neto/sem equipe, 23 v
NC Carlos Eduardo Andrade/HD, 21 v
NC Mauro Turcatel/sem, equipe, 21 v
SC79
O primeiro campeonato brasileiro de Stockcars foi realizado em 1979, substituindo o Grupo 1, visto que a concorrência entre Opala/Maverick evaporara e o campeonato se transformara em virtual monomarca. Assim, a GM resolveu promover seu produto exclusivamente, chamando-o de “Torneio Nacional Chevrolet de Stockcar” com óbvia alusão aos carrões americanos mais brabos.
O campeonato, que teria 14 corridas, em si uma grande novidade para os brasileiros acostumados com campeonatos de seis corridas, começou com virtual domínio de Afonso Giaffone, que ganhou as três primeiras provas do ano de forma inconteste. Eventualmente a vantagem dos motores preparados por Jayme Silva se esvaiu, e outros dois concorrentes entraram na luta pelo título, Paulo Gomes e Alencar Junior.
O calendário incluía uma prova na distante Fortaleza, à qual poucos carros apareceram, quase resultando no seu cancelamento. Entretanto, na maioria das etapas, havia por volta de 25 carros, um bom nível para o automobilismo da época. Entre os pilotos, alguns ilustres desconhecidos de capacidade questionável, mas em compensação também disputavam a categoria Ingo Hoffmann, que voltava a correr no Brasil após quatro anos de Europa, e o estreante Raul Boesel, do Paraná, que já ganhara duas corridas quando o “circo” chegou no Rio de Janeiro, para a 12a. etapa realizada em 25 de novembro.
A corrida do Rio foi uma beleza. Belos pegas e ultrapassagens, tanto que a primeira bateria da corrida foi considerada a melhor corrida do ano no Brasil, com Boesel, Affonso, Paulão, Zeca e Ingo trocando posições, resultando em vitória de Ingo. Na segunda bateria Paulo Gomes reagiu, e na soma dos tempos terminou a corrida em primeiro, seguido de Raul Boesel, Alencar Junior, Ingo e Joao Carlos Palhares. Affonso chegara em 13° perdendo terreno para Paulão e Alencar de forma que a disputa pelo título ficaria acirrada. Havia esperança para o automobilismo do Brasil.
A próxima etapa foi realizada em Cascavel, no Oeste do Paraná, onde a confusão de instalou. Aqui o circo pegou fogo. Da prova linda e harmoniosa, com ultrapassagens leais e limpas, o clima no Paraná pareceu tenso logo de cara. Muitos dos 25 concorrentes do Rio resolveram não viajar para o Paraná, e de fato, só foram aqueles que absolutamente tinham que estar lá. Ou seja, só 13 carros participariam.
O barraco começou quando foi comunicada a desclassificação do carro de Alencar Junior, que marcara o melhor tempo nos treinos, justamente um dos fortes concorrentes ao título. O goiano havia instalado uma bomba de álcool (todas as corridas brasileiras já estavam sendo disputadas com álcool) de pickup Chevrolet, e o comissário Bruno Brunetti resolveu desclassifica-lo. Dai, começou o bate-boca. Questões técnicas foram debatidas, e no final das contas, a tal da bomba de pickup apresentou defeitos e Alencar instalou uma bomba igual a dos outros carros. Os comissários decidiram cancelar a desclassificação, voltando Alencar a ocupar a pole.
Isto enfureceu diversos outros pilotos , que exigiam a manutenção da desclassificação. O comissário Brunetti reuniu os concorrentes, Alencar o acusou de desonesto, Paulo Gomes tomou a palavra, todo mundo queria falar, e dai o centro das acusações passou a ser o presidente da Federação Paranaense de Automobilismo, Paulo Nascimento. O ultimato de um pequeno mas representativo grupo de pilotos, que incluía Affonso e Zeca Giaffone, Ingo Hoffmann, Paulo Gomes, Paulo Valiengo, Mauro Sá Motta e Almir Valandro foi de que não participariam de prova, se Alencar não fosse desclassificado.
Dizem que quando Jânio Quadros renunciou à presidência do Brasil, em 1961, o fez achando que as lideranças do País o chamariam de volta, e daí ele voltaria à presidência fortalecido, podendo governar o Brasil da maneira como queria. O maquiavelismo de boteco não deu em nada, ninguém o chamou de volta, Goulart assumiu, e o resto é história. Fi-lo por que qui-lo!
Nesse caso, o grupo de pilotos sabia que sem eles não haveria corrida no strictu sensu. Afinal, além de serem concorrentes importantes, eram oito dos treze pilotos inscritos, e mesmo que a palhaçada (a corrida) fosse realizada com cinco carros, poderiam embargar seu resultado nos Tribunais desportivos ou normais. Dane-se o público de Cascavel, que tanto gosta do automobilismo. Danem-se os patrocinadores. Dane-se o esporte.
O tiro saiu pela culatra. Os organizadores conseguiram arranjar dois carros locais, de Mauro Turcatel e Samuel Neto, este último equipado com ar condicionado, para perfazer o número mínimo que garantiria a efetivação do resultado. A politicagem não deu em nada. A corrida foi disputada com meros sete carros, embora iniciada com atraso (algo impensável na era da TV), para que os dois bólidos arranjados à pressa fossem “devidamente” preparados. Raul Boesel acabou ganhando a sua terceira prova do ano, e Alencar Junior, que abandonara na primeira bateria e ganharia a segunda, marcou os pontos do 4° lugar.
Sem dúvida, este foi o ponto mais baixo do primeiro campeonato de Stock-Cars, e de certa forma, foi bom que Paulo Gomes tenha ganho o título na pista, na última etapa. Indubitavelmente, se Alencar Junior tivesse prevalecido as coisas terminariam em tribunais, tirando todo o brilho de um campeonato bem disputado e organizado.
Que dizem os críticos da atualidade? As coisas estão más hoje? Querem 1979 de volta?
Resultado da 13a. etapa do Torneio Nacional Chevrolet de Stock-Cars
Cascavel, PR 9 de dezembro de 1979
1. Raul Boesel/O Globo, 32 v em 45m08,52s
2. Sidney Alves/Banconsorcio, 32 v
3. Valtemir Spinelli/Gledson/Coca-Cola, 32 v
4. Alencar Junior/Metalonita/HD, 24 v
NC Samuel Neto/sem equipe, 23 v
NC Carlos Eduardo Andrade/HD, 21 v
NC Mauro Turcatel/sem, equipe, 21 v
SC79
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